quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Frases de um fim de ano

"Mostrou para mim a beleza de um amor verdadeiro"

"Eu não entendo que tipo de carinho consegue suportar tão pouco à distância"

"Vivo o que é preciso ser vivido"

"Eu te amo, mas não consigo suportar tamanho desapego"

"Todos os dias eu me perco em melancolias e reminiscências"

"Num dado momento, no final de um dezembro, os amigos se vão. Não pela pasmaceira, mas simplesmente pelo fato de terem que ir"

"Eu gosto mesmo é de falar"

"Meu olhar, meu abraço, meu sorriso ao lado de vocês é único; dispensa qualquer letra do alfabeto"

"Espero sempre tê-los como inspiração"

"Talvez a embriaguez do momento me impeça de ser mais direto"

"A confiança é a raiz de toda amizade verdadeira"

"Tudo nos é permitido: talvez essa seja a maior beleza da nossa vida nesse momento"

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Apostasia de mim

Este ser imperfeito que vos escreve, soberbo leitor, acaba de se tornar um herege. Sim, violei o mais sagrado dos dogmas, agora sou um excomungado, um execrado, um pária. Qual será o destino dos que traem a si próprios? Em qual andar do inferno de Dante eu descerei?

As coisas ficaram complexas a partir do momento que não consegui cumprir aquilo que prometi para mim mesmo. Parece um transtorno no cérebro, conflito doloroso entre os hemisférios, em que o portador é fadado à derrota. Pior do que ela; a descrença.

Constatar que se chegou a tal fim pode ser um ensejo para uma retomada: alento.
Também pode ser a passividade e total abnegação do ente: desalento.

A força, que nos compete para superar, onde está?
Que sentimento fecundo corre em minhas entranhas que não permite sossegar a carne?

Quantas perguntas, enigmático leitor! As interrogações têm substituído os pontos finais; estes viraram reticências.

Reticência burra, mesquinha, impregnada de um poder que não detenho, carregada de um afeto que transborda. A dicotomia, clara dúvida de quem vive, é determinante, indefectível: certa. Não hesita.

Desacreditei-me. Preciso de um tempo reflexivo. Mensurar os meus valores, repensar condutas. Quem sabe eu volte a ser crível. Hoje sou apenas um ser sofrível, nas duas acepções da etimologia, ou seja, de sofredor e na sua vertente de insuficiência. Chega a dar pena, a penúria dos nervos, sua rigidez. Vorazes, querem saltar à pele. Tolo do que tenta resistir.

Facam seus votos! Eu não sou investimento seguro, sou flutuante, ativo de risco, 100% de risco. Vou vagar por outras bandas, mais frias, quiçá elas esmoreçam minhas investidas, meus amores.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Olhos que procuram olhos

Mesmo sem desejar, mesmo desviando a face, eles são implacáveis. Não existe sentimento tão enigmático quanto esse. O momento que se dirige o olhar, alguém o dirige contra o seu.

Por vezes ele é implacável;

encontra um choque dolorido, um choque frontal, um choque fatal. Ele crava um momento indelével e que nenhuma palavra seria capaz de definir ou conceituar tal realidade.

Por vezes ele é terno;

afetuoso, abraça o emissor bem como o receptor, é um sentir-se acariciado sem existir um tato.

Mas, caro leitor, existe outra modalidade de olhar. O olhar sem visão, o sem horizonte, o sem sentido. Não se consegue discernir se aquilo é bom ou ruim, se aquilo lhe transmite algo ou não. É uma vontade de chegar e perguntar: "E ai, meu amigo, me explique seu olhar!"

Qual será a resposta?

Nessa vicissitude momentânea, posso lhe garantir, visionário leitor, o olhar significa o desencontro, a desarmonia, a nítida sensação de que nem as palavras deram conta. O olhar se perdeu!

Procuro um olhar que me faça mergulhar num buraco negro, sem pensar e, talvez, nadar num mar azul, verde ou castanho, mas que seja leve.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Banalização da realidade

O fim da exigência do diplomata de jornalismo para exercer a profissão suscitou uma discussão lastreada no direito à informação e liberdade de expressão. O argumento usado no STF, tendo em Gilmar Mendes o seu ministro relator é de que o diploma cerceava o direito do cidadão comum a se manifestar, criando uma reserva de mercado. Outro argumento muito difundido foi o de que o “agir ético”, que é uma das pilastras do bom jornalismo, não é ensinado em qualquer faculdade, ele é um sinal de caráter, é pessoal. Para arrematar, falou-se muito da origem do diploma, nos idos na ditadura, e que nos EUA tal requisito nunca foi necessário.

Ora, comparar a realidade brasileira com a norte-americana é, no mínimo, reducionista. Nossa imprensa nasceu de uma maneira diferente, nossa sociedade é diferente, temos valores e preceitos distintos, enfim, devemos entender e não comparar. Quando Gilmar Mendes traça um paralelo entre o jornalismo e profissões como culinária, moda e costura, que elas me perdoem, ele menospreza todo o arcabouço social que a imprensa veicula. No Brasil, em que as instituições são débeis e viciadas, o papel do jornalismo é dar um alento à população, escancarar todos esses imbróglios e, portanto, mobilizar a população por melhorias.

Nos grandes conglomerados comunicacionais como a Folha e o Estadão os critérios de seleção sofrerão poucas mudanças, quiçá nenhuma. Sempre se procurou os melhores profissionais nas melhores instituições, tem sido assim desde que o jornalismo se profissionalizou pelas terras tupiniquins. Entretanto, em cidades do interior em que os jornais são bancados pela prefeitura local, por uma ou outra empresa, o vínculo ético de um jornalista “imparcial” e a notícia fica totalmente desestruturado. Você dá voz a alguém sem compromisso nenhum com a verdade dos fatos, porem a noticia é propalada e por vezes assumida como factual. Onde fica o dever ético de nossa profissão?

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Novo horizonte em Pindorama

A escolha do Rio de Janeiro como a sede dos jogos olímpicos vem coroar o momento ímpar que o Brasil passa. Resultado não de um ou dois governos do presidente Lula, mas sim de quase duas décadas de estabilidade econômica, o país passa a ter peso indefectível no cenário externo. Os críticos e pessimistas já estão alvoroçados, defenestrando a escolha do Rio como ilógica e desmedida. O argumento deles baseia-se em prioridades, ou seja, a capital fluminense, o país como um todo, necessita de melhorias em áreas como a saúde e a educação a revelia de obras para a Olimpíada. Não obstante, citam o descalabro nos gastos com o Pan e seu legado para a cidade.

Ora, não se deve confundir as coisas. Obviamente o país possui muitas mazelas de ordem social. Ainda há analfabetismo, ainda há submoradia. Contudo, na história recente do mundo, não há caso parecido com o do Brasil. Em pouco mais de 40 anos nossa população aumentou em 100 milhões. Isso reflete e muito em hábitos, valores, costumes. Na sociologia costuma-se falar nas “dores do crescimento”. O Brasil ainda passa por elas. O Rio de Janeiro não é diferente. Os morros são reflexo dessa verdade.

A Olimpíada vem selar um novo contrato social entre população e governantes, ou o mais importante, um novo espírito de auto-reconhecimento. Os brasileiros nós sofremos da síndrome da subimportancia, tudo que ocorre em terras tupiniquins é pior do que no exterior. Somos a escumalha mundial. Esse novo pacto pode mostrar um novo país nascendo de estádios e ginásios. Um país que acredita na força do seu povo para crescer, em que os brasileiros se orgulhem de se dizer como tal. Não se trata de um discurso ufanista e sim o surgimento de uma verdadeira nacionalidade, morta pela ditadura.

É tempo de entender que o esporte tem o escopo de trazer o jovem para o exercício da cidadania. Na prática esportiva tem-se a noção de competitividade, respeito ao professor, hierarquia, disciplina, interação social. Ademais, temos os benefícios trazidos para a saúde com a prática esportiva. Em Copenhague, não foi o Rio quem ganhou, foi o Brasil. Em cada canto dessas terras tropicais haverá uma mobilização em torno do esporte. Ganhamos a oportunidade de construir uma geração diferente das que se sucederam até hoje. Formaremos uma nova juventude sedenta por esporte, é a Copa do Mundo em 2014, é a Olimpíada em 2016.

O pessimismo precisa sair do nosso arcabouço histórico. A hora é de apostas, de otimismo. Saber gerir os recursos que virão, saber administrar o volumoso montante de dinheiro público que estará disponível será tarefa árdua. Entretanto não maculemos algo antes que ele comece. A vitória do Rio conclama todo um país, na letra de Chico Buarque, “Estação Derradeira” ele diz: ”Rio de ladeiras, civilização encruzilhada, cada ribanceira é uma nação”. O desafio é dar alento a essas “nações”, fazê-las convergir para este novo contrato. Estamos diante de uma nova decisão para o Brasil.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

História de uma conscupiscência desafortunada

O casal era jovem, estavam apaixonados. Não se tratava de um homem sério e uma moça recatada, pelo contrário, Henrique e Aline formavam uma dupla que exalava libido. O famoso clichê fogo e gasolina, que não sei por quem foi criado, deve ter se inspirado nos pombinhos, ou diabinhos, como preferirem.

Juntos, eles escreviam um capítulo novo a cada fim de semana. Os amigos se reuniam na segunda feira para escutar as excentricidades que Henrique e Aline faziam questão de propagar aos sete ventos. Porém, numa certa segunda feira, fez-se silêncio e as risadas de outrora se transformaram em bochechas rosadas e vergonha, muita vergonha. Explico, caro leitor.

O dia era 12 de junho, dia dos namorados. Ele queria dar-lhe a noite mais feliz de sua existência. Ela queria jantar, mas também não abria mão da volúpia encarnada em seus desejos.

Jantaram. Preferiram algo leve; ostras. Beberam. Baco lhes reservou um delicioso espumante. Explosão. Salta a rolha e o brinde se torna o ensejo para uma noite bem mais longa.

No carro, os quereres se tornam insustentáveis. O motel é proposto. Mas para qual iriam? Para o primeiro que vissem, curioso leitor, penso que compreenda do que falo.

Motel Obsessão. Suíte com banheira, cama giratória, espelho no teto (como se tudo isso fosse necessário). A cama, inclusive, era em formato de coração, vermelha, daqueles tons que até doem os olhos. Barry White nas caixas de som embalou os pervertidos. Henrique e Aline, ou Aline e Henrique, não se sabia mais qual corpo era de um e de outro. Ele liga a cama giratória. Velocidade baixa para curtir uma visão mais panorâmica. Velocidade média. Preocupação. Velocidade alta. Problema. E não cessa. Parecia que estavam em algum twister de parque de diversões. Aline começa a sentir contrações estomacais. Melhor abandonar o “ninho do amor” e tentar outro lugar.

Um banho é sugerido. A jacuzzi comportava um time de futebol, com o técnico, mas um casal era mais que suficiente. Ligaram-na e mesmo tanta água não lhes apagou o fogo. Boa temperatura. Água na altura da barriga, de repente na altura no peito, e agora já na altura do queixo. E a torneira não para de jorrar. O quarto vai se tomando por um espelho d’água constrangedor.

Henrique, desconcertado, pensa em ir à recepção para sanar os percalços. Quando abre a porta, se depara com um homem peladão, andando como Adão pelos corredores, provavelmente tinha descoberto a vida naquele momento. Ridículo.

Por essas tantas, Aline se cansara, o que mais queria era o fim daquela noite, antes que alguma coisa piorasse. A conta foi pedida. Henrique passa a mão no rosto, desolado. O execrado e desejado dinheiro tinha se esvaído todo com o jantar. O que sobrara era o dinheiro da pinga, aqueles trocados miúdos, ébrio leitor.

A quem recorrer? Os amigos tinham ido pra praia. Os primos estavam morando em outra cidade. Voltaram às origens: papai e mamãe, dele, claro. Aline queria enfiar a cabeça em um buraco. Henrique administrava o seu desconcerto com certo regozijo de seu pai.

Encerrada a conta, era hora de esquecer aquela inesquecível noite. O carro estava com as chaves dentro. Perfeito.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Desconstrução

por seis mãos

"Faber", do latim, é construir. Talvez o nome Fabrício signifique um obreiro, um construtor. Mas o que ele constrói?

Ele pode usar sua capacidade de construir para o bem ou para o mal. Pode construir uma muralha da China, mas também pode construir um muro de Berlim.
O Fabrício que conhecemos, por natureza, e aí me utilizarei da psicologia de boteco, constrói barreiras. E isso não é necessariamente ruim. Ás vezes é fascinante.

Ah, mas o que são barreiras sem ninguém para guardá-las? De que serve uma muralha, um muro, ou cerca se não há por quem resistir? E se não há quem proteger? Porque existir?

Penso que as barreiras que ele levanta são feitas de algo diferente de concreto e tijolos. São barreiras que tem a sua essência na casa das idéias. Você pode entrar na sala, dar bom dia e ir embora. Se for um ser - humano mais "convidativo" saberá ir até a cozinha, trocar algumas frases e até conhecer o quarto. São poucos que chegam até lá. É o crivo do construtor. É a barreira seletiva dos que só chegam e dos que chegam lá!!!!!

Mas este caminho percorrido da sala ao quarto é a transposição de barreiras. Os indivíduos têm em seu peito barreiras que guardam seus segredos, suas preciosidades. Transpor essas barreiras, chegar ao fundo no conhecimento de alguém é receber um tesouro. Este construtor não seria, então, um desbravador a transpor barreiras?

Seria e o é. E deve ser por isso que você, cara leitora, está com ele. Para lhes transpor as barreiras e conhecer seus mais profundos segredos. E a recíproca dele é verdadeira também !!!

...

Mudos, calaram-se. A minha caneta terminou de falar por mim e se deu por satisfeita em transferir para o papel, e agora para a tela, algo que se reserva à esquina de cada um.

sábado, 5 de setembro de 2009

Trem bala

Agosto se passou com a rapidez da luz.
Á luz de novas realidades, vivo eu.
Eu caminho com a cabeça cheia de pensamentos.
Pensamentos esses que se traduzem em autoconhecimento.
Autoconhecimento significa ,em alguma medida, respeito.
Respeito a decisão alheia.

Atribulações do cotidiano agora me são frequentes.
Frequentes são as vezes que me pego refletindo sobre a vida.
Vida é algo que sempre se renova.
Renovo a mim mesmo.

Descobrir entre as coisas importantes a sua essência.
Essência é o que há de mais puro.

O amor como virtude, para que tenha sentido.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Maré

Vou me permitir contar outra impressão muito rotineira e intrigante no meu cotidiano, sonhador leitor.

Toda vez em que me vejo sem um norte, algum "plano B", eu sonho. É repousar a cabeça sobre o travesseiro e começam as alucinações. Até aí nenhuma novidade. Todos nós fazemos isso em algum grau.
O que me espanta é o conteúdo do sonho. Sempre o mesmo.

Tudo começa numa praia, estou rodeado sobretudo de familiares e amigos. Um dia de sol, normalíssimo. De repente o tempo se fecha. Vejo-me só. O céu escuresce de forma brutal, tons de cinza. Contudo, o que mais impressiona é o mar. Ele cresce a olhos vistos. Fica transtornado, revolto, bravio. E o ser humano que se encontra solitário na praia toma a atitude mais irracional. Vai em direção da arrebentação.

Daí pra frente é sempre conturbado, pra não dizer desesperador.
Até certo ponto eu consigo nadar e me "esquivar" das ondas. No entanto, as ondas só aumentam de tamanho, a maré sobe. Não dou mais conta de nadar, nem de respirar. Afogo.

Acordo.

Sempre com sede.

Tentei tirar algumas lições desse despropério:

1. Não é seguro nadar em mares que desconhece.
2. Em alguns casos, saber capitular é mais importante do que enfrentar a maré.

E não vou te cansar, náufrago leitor, já basta por aqui.
Uma explicação que eu ainda não alcancei e ainda trabalho nela é perguntar: para onde foram os que outrora me rodeavam?

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Mesa de bar II

Foi você que me escutou.
Foi você que me viu rir desesperadamente.
Hoje, você foi minha amiga...

...mais do que você, só a loira...

Não tenho pudores com você, usei-a mesmo. Mas mesmo assim, serviu-me de recanto.

Obrigado.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Tormento II

Mas você é danada mesmo !!! Achei que tinha me livrado de vez desta tua presença desagradabilíssima. Nem pede licença, senta-se neste meu sofá branco e o torna meio acinzentado. Você o suja com algum desalento que não há limpeza que tire.

Eu lhe peço, saia da minha casa. Volte pra onde nunca deveria ter saído. Eu reconheço que por hora você está menos agressiva, menos feroz, menos ferrenha com tudo que lhe oferto. Contudo prefiro você longe. É tão cômico, porque apareces nestes momentos inoportunos? Alguém te forneces todas as minhas angústias, ou elas são tão latentes em meus olhos?

Também não quero que se explique. Somente sua presença já causa um desconforto no âmago, quando ousas pronunciar algo, mesmo que balbuciando, as palavras entram e parecem estar num looping sem fim.

Quando eu for dormir, espero que tenha respeito e fique na sala. No meu quarto você não é bem-vinda. Vá durmir com seus companheiros fúteis.

Quando eu acordar, espero que tenha ido embora. E não perca tempo escrevendo bilhetes, somente vá com todo o seu conluio. Esqueça-me, como tão magistralmente vinha fazendo, e se um dia supuser voltar para me fazer uma visita; não perca seu tempo.

Saberei trancar a porta.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Sozinho

Ouço a vizinha tocar piano. Estou atento a tudo que se passa, porém não vejo nada. A energia acabou. No sofá, ao som de uma balada triste e de uma taça de vinho, reflito sobre mim mesmo. Este é o meu momento. O instante que me suporto. é difícil para mim. Imagino para os outros. O outrem reconhece em mim meus defeitos, minhas fissuras, meus nojos, a minha metade vil. O que será que ele enxerga? Alguns se arriscam e me dizem. Outros preferem o olhar da dúvida ou o do desdém. Se não bastasse, apontam o dedo, mas não me dão a solução, não procuram entender minhas aflições e agruras. Divago: acho que é o que mais tenho feito nesta quase total solidão.

A compania que outrora trouxe da terrinha me mostrou novas realidades que estou me acostumando a aprender. Sentados, olhando para um horizonte muito distante, pude perceber um sorriso em meu semblante. Contudo, ele estava longe, não de mim, mas de um sujeito que está em um lindo processo, meu amigo leitor. Uma metamorfose que é ladeada por verdadeiros amigos, verdadeiros amores. No plural. Amor este que insisto em dar, não abro mão, e sei que se consigo fazer brotar uma flor do asfalto de uns, conseguirei em você.

Dentre os textos que escrevi, esse me parece o mais esquizofrênico. É uma verborragia sem fim. Não paro para reler e não o farei. Gosto desse fogo, essa ânsia em escrever tudo. Desafogar todo o âmago. Escrever. Nunca as palavras darão conta. Serão sempre um presságio, um motivo, um viés; o caminho.

A luz voltou.

Meus olhos doem. A vizinha parou com o piano. Meu vinho acabou. Nada, porém, para ou apaga esse sujeito que tem gana pelo hoje, se entrega totalmente no que se propõe e, com fé, ruma para a trilha da felicidade; a tão buscada e tão vivida.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Tormento I

Quem é você?

Que quer de mim?

Que tipo de melancolia te acomete?

Qual verdade te faz feliz?

Qual realidade te gere?

Qual tipo de maquiagem oculta tua face palpável?

Quais preceitos te trazem até mim?

Quais dogmas tu carregas?

Quais pecados te atormentam?

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Mesa de bar I

Chega a ser arrepiante o quanto uma mesa de bar pode nos mostrar. Talvez por sempre estar próximo delas, eu sinto que são uma extensão do meu corpo, quando o copo a toca, sinto como se me tocasse tambem. Creio que ela, com a compania dos que a rodeiam, tenha me revelado algumas verdades importantes ultimamente.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Paulatinamente

Delegar tarefas. Sem intenção, ou de caso pensado, cada vez mais apontamos afazeres a serem feitos pelos outros. O nosso cotidiano é repleto de bons exemplos. Quando você acorda e deixa a cama desarrumada, delega a alguém que a arrume pra você. Quando você não faz o seu trabalho de maneira correta, algum outrem arcará com o fardo da labuta. Quando você almoça e não lava a louça, delega a alguém que a lave, enxugue e a guarde novamente.

Poderia rechear este branco com vários exemplos. Eles falam por si só e se fazem ser entendidos muito melhor do que qualquer reles divagação deste que vos fala.

Nostálgico leitor, faça um força no pensamento e reflita como as coisas seriam diferentes se você as fizesse de fato. Você só dará valor na cama arrumadinha de todo santo dia, quando a perder e ter de fazer por você mesmo, aprender a arrumar. Você só dará valor na casa cheirando a limpeza, quando você entrar na sua casa imunda e ter de limpa-la sozinho, aprender a limpar: quanto diluir?

Essas passagens podem se dar pela iniciativa deliberada. Acordamos em um dia inspirado e decidimos fazer o que nos compete, ou que pelo menos está no alcance de nossos braços. Por vezes somos obrigados a fazer essa mudança, de maneira compulsória, sem mais delongas. Acredito que ambas tragam uma alegria de autosuficiente incrível, mas a segunda vem carregada de algum fator maior, que não me compete descrever nessa dissertação.

Na contramão deste raciocínio que traçamos, existem as pessoas que dominavam a técnica com habilidade. Usavam-na de maneira precisa e, por forças que não me competem explicar, desaprendem-na. No auto de sua autoafirmação, você vai se perdendo, entremeando tortuosos e lânguidos caminhos que outrora eram linhas retas.

Pouco a pouco as decisões de qual caminho seguir já não estão sensíveis. Você delegou a alguém. Paulatinamente, sem perceber, você se enveredou por alamedas muito complexas. O mapa estava errado. O google não te auxiliou.
É você contra o que você delegou.
Chegamos no ponto que gostaria, serei simples e direto: recupere sua autodeterminação. Mesmo.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Rascunho imperfeito

Das incongruências da vida, tudo vai se acertar, a sua revelia ou não.

Paulatinamente o que se contruiu, desaba.

Paulatinamente o que se desabou, resurge.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Gripe: (A) Marginália

O apocalipse: todas as pessoas acreditam em algum grau no nosso fim capital. Alguns mais, outros menos. Eu diria que a mídia é a que mais aposta no derradeiro dia, pena que se isso ocorrer, não terão leitores para o dia seguinte. Recuso-me a acreditar nessa tal pandemia, nível 5, segundo a OMS ( Organização Mundial da Saúde ), ou seja, risco eminente de todos os seres humanos serem infectados. Há um quê de demagogia em tudo que se tem dito e tudo que tem circulado pelos jornais. Faz-se um alarde imenso por 5.000 casos no mundo todo. As pessoas estão imersas em um globo que já bateu a casa dos 7 bilhões de habitantes, portanto 0,00007% dos seres humanos que habitam o planeta Terra estão doentes. Fechem as janelas. Não saiam de casa. Usem máscaras, de preferência evitem respirar, possivelmente pode ser o seu último suspiro ante ao influenza.

Quando este texto circular, os casos serão mais numerosos, eles vão crescer, mas não baterão nem de longe os números que apresentarei a você, saudável leitor. No mundo, a tuberculose é uma das doenças respiratórias graves que mais mata. Só no Brasil, segundo dados da Anvisa, são 116 mil casos da doença. Esta não é noticiada como pandemia. No mundo, o vírus do HPV tem causado o aumento escandaloso da incidência de câncer de colo do útero. Só no Brasil, segundo dados da Comissão de Infectologia Brasileira, são 34 milhões de casos. Este não é noticiada como pandemia. Acho que já me fiz entender. Poderia citar outros exemplos como os casos de asma e pneumonia, mas os pouparei de dados aberrantes.

Mais: o grau de mortandade do Influenza A ( H1N1 ) é infinitamente menor frente aos da tuberculose, por exemplo, que mata 68 entre 10 mil habitantes.

Fim por fim, a indústria de máscaras ri por trás delas. A indústria farmacêutica nada de braçadas em antigripais e afins. Alguém sempre ganha com a desgraça alheia.

Mais uma vez a mídia faz o seu papel de espetacularização do mundo. Kracauer, o mentor dessa ideia, estaria gargalhando ante a tanto alarde. Atenho-me ao brasileirissimo Gilberto Gil que sabiamente cantava a algum tempo atrás: aqui é o fim do mundo!

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Mau cheiro

O Brasil vai mal, caro leitor eleitor. A cada dia que abrimos os jornais nos deparamos com disparates mil. Detalhe: eles não atingem somente a esfera Legislativa, a mais nefasta, mas também corrompem o Executivo e o Judiciário. Justifico tal afirmação com dois exemplos patentes.
O primeiro, malfadado, diz respeito às passagens que os congressistas recebiam e utilizavam ao seu belprazer. Os meses que o contribuinte trabalha todo ano para ser revertido em imposto era gasto com voos de Eduardo Suplicy acompanhado da namorada para o exterior, de Luciana Genro para Protógenes Queiróz realizar palestras e até mesmo para Adriane Galisteu assistir ao Carnaval. Nada mais justo, não é? Mesmo porquê Suplicy é de família pobre em São Paulo, humilde, os Matarazo. Luciana Genro, sim a do PSOL, é filha de Tarso Genro, um pequeno proprietário do sul. Protógenes Queiróz é delegado federal, mas só isso, ganha o mínimo. Adriane Galisteu também passa por dificuldades, sua carreira na televisão mal paga o pão do café.
Magnífico.

Para colocar a cereja no bolo, o presidente Lula disse que as críticas são "hipócritas" e que na sua época de deputada ele também usufruiu de tal regalia para levar "companheiros" para lá e para cá. Claro ! Justíssimo !

Não bastasse tudo isso o deputado Sérgio Mendes ( PTB-RS ), que é relator do caso Edmar Moreira , ( sim, o do castelinho ), disse: " estou pouco me lixando para a opinião pública ( ... ) vocês batem, mas a gente se reelege".

A afirmação dele é epistolar e porque não dizer categórica. Infelizmente é verdade. A nossa democracia está viciada, comprometida e entulhada. A sociedade brasileira colocou a escumalha toda junta, toda a patuleia empoleirada. Não se consegue colocar a mão no fogo por ninguém, nem pelos que outrora carregavam a coroa da ética. A coroa está sem cabeça, ela é posta na vitrine para admiração popular, mas nenhum parlamentar tem capacidade moral de empunha-la.

Para concluir: o debate sobre reforma política ganhou força e tudo indica que o voto por lista fechada será aprovado por maioria simples. Ou seja, a única arma, ainda que fosse um estilingue, que tínhamos na mão que era tentar punir o transgressor não dando nosso voto pra ele, acabou. Votaremos em listas que se construirão pelo lobby, pelo jogo político, pelo interesse financeiro. Enfim, é a manobra irada para que eles se escondam, definivamente, atrás de uma cortina fétida.

Minha vontade é de escrever mais, mas meu estômago já está revirado.
O Congresso Nacional fede.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Cartas

A era digital veio para agilizar o nosso dia a dia. Tudo é feito online: transações, pagamentos, compras. Mais: mensagens pelo celular despencam aos montes, e-mails abarrotam nossas caixas de entrada. Tudo numa frieza mórbida, uma sequidão de expressões, uma nulidade de sentimentos e propósito.

O ato de escrever uma carta foi esquecido e hoje se reserva aos dito antiquados. Mas, se você, sensível leitor, já recebeu uma carta sabe a sensação que tentarei descrever. Ela denota um hiato no tempo, uma momento que alguém dedicou somente a você, momentaneamente ele se desdobrou encima de linhas para atingir o seu âmago, para lhe contar um fato, declarar-se, despedir-se, despiu-se. Por algum espaço de tempo a vida se encerrava naquele papel branco, reminiscências, lembranças, lapsos. É um processo, não como o dos e-mails, rápidos e eficientes, a carta não pretende ser rápida nem eficiente. A temporalidade da carta também é diferente. É um dado físico, material, quando necessário você recorre a ela. É uma certeza factual, está lá, escrito a punho, suor e, por que não, lágrimas.

Claramente uma necessidade humana, o reconhecimento que uma carta traz é infindavelmente maior do que qualquer invenção dos nossos tempos. Infelizmente quem tem se lembrado dessas vicissitudes é o banco. Sim, meu maior remetente, todo fim de mês ele está atento a mim.

Não hesite quando puder remeter uma carta. Histórias foram escritas por elas. Não deixe que definhe algo tão sublime. Presenteie com palavras belas, aconselhe, elogie... singelezas do cotidiano fazem toda a diferença.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

O seu tamanho

Relendo textos antigos que eu mesmo produzi e alguns textos recentíssimos produzidos para mim, notei algo sublime. Veja, nostálgico leitor, que algumas das afirmações que fazíamos com ares de certeza se voltaram contra nós mesmos, agora com ares de dúvida, questionando-nos.
Bala que ricocheteia.
O carrinho da montanha russa que chega ao ápice do trilho e volta de ré.
Boa imagem.

Nós somos exímios observadores da realidade alheia. Tecemos teorias, ou usamos das prontas, para indexar um rótulo. Estabelecer um paralelo desejável. Explicar uma situação.

Chegamos ao topo.

Abusamos das palavras, jogamo-las desencadeadamente pela folha. Saem belas frases: hipócritas. Há um quê de hipocrisia em todos nós. Sem exceção.
Pois bem, fica fácil analisar quando se está no alto. Olha-se com total imparcimonia a realidade logo ali abaixo.
Mas o carrinho desce.
O moinho gira, lembraria Cartola.

Reflita as linhas que outrora escreveu e veja quantas dicas foram dadas, quantos conselhos emprestados sendo que você era, ou seria, o protagonista. Note que estava tão mergulhado, inserido no contexto que se permitiu tecer "bulas" que mais vestiam o seu 36 do que aquele 42.

Olhe com carinho seus textos. Eles são mais inteligentes que nós, os seus autores. O que falta é o olhar cirúrgico e equilibrado para identificar as nuances. Elas saltam aos olhos do leitor atento e fogem aos do autor fugaz.

terça-feira, 31 de março de 2009

Leite Derramado

A nova obra de Chico Buarque, homônima deste post, é lindamente bem concebida. Com sacadas que só um cérebro em plena atividade pode produzir. Mas não, caro leitor, não ousarei discorrer sobre as delongas do livro. Seria muita ousadia, apenas recomendo a leitura.

Talvez o leite derramado seja uma metáfora apropriadíssima para o momento. Imaginemos que são várias as maneiras que o leite pode escorrer de seu recipiente.

1.Pode acontecer da quantidade de líquido ser tamanha que o recipiente não mais o tolerar. Ele vai se enchendo pouco a pouco, aguentando, recrudescendo suas laterais, mas não adianta, vazará.

Passou dos limites que ele suportava.

2.Pode acontecer do recipiente cair. Neste momento não me vem outra imagem senão a de um grande jarro de vidro, desses bem fininhos, se estilhaçando, caquinhos que vão se misturar ao leite que escorre.

Não chegou na possibilidade total, capitulou antes disso.

Mas que banalidade tratar sobre o "leite derramado", dirão. Duvide das soluções simples, nada é simples quando se tratam de sentimentos, principalmente o mais intenso deles, o irmão do ódio; o amor.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Venezuela donde estás?

A cada programa de tv uma nova surpresa. É assim que tem sido a rotina dos venezuelanos com o malfadado "alô, presidente", o programa semanal exibido aos domingos e que tem como protagonista, claro, o estandarte do "resorgimento" bolivariano, Hugo Chávez.

A última movimentação da câmara oficialista e do executivo, chefiado por ele, foi a intervenção em portos e aeroportos de estados sob gerência da oposição, sim, ela ainda existe. A guinada autocrática que o governo "revolucionário" toma, em nome da equidade social, parece debochar explicitamente da democracia. Mais uma vez, dirá o atento leitor. Reavivamos nossa memória e lembraremos que o referendo sobre a reeleição infindável foi ratificada pela população. O Simón Bolívar do século XXI parece guiar o seu cavalo rumo aos seus amigos de trincheira: Fidel Castro, Evo Morales e Rafael Garcia. Mais do que amigos; verteram e bebem do mesmo fanatismo egocêntrico, que, cá entre nós, cheira mal.

A campanha publicitária de Chávez é magnífica. Ele realmente conseguiu angariar a confiança de uma grande parcela da população com o seu discurso assistencialista e patriótico. Foi laboriosíssmo, mas não esqueçamos que existe os que não concordam com o regime instaurado. Eles fazem massa não-ouvinte no legislativo, mas nas ruas de Caracas, como pode ser notado, se fazem serem vistos.

Com a queda do preço do petróleo, a rica Venezuela já sofre com crises de desabastecimento alimentar e já não consegue financiar tantos projetos estatais quanto gostaria. Vejamos até que ponto " el socialismo del siglo XXI" conseguirá absorver os anseios sociais e rir, demasiadamente, da frágil Democracia.

terça-feira, 3 de março de 2009

Os anos se passaram

Fazia algum tempo que ele não a via. Ela, porém, encontrava-se no mesmo lugar de sempre: apartamento 61 do edifício Bela Vista. Aliás, ele não tinha esse nome por um acaso, a paisagem que se esmerava daquela sacada era magnífica; montanhas, pôr do sol e muitas casinhas modestas. Entrou sorrateiro, como sempre fez. Ela resava, para variar. Sussurrava algumas palavras que por hora se perderam com aquele reencontro. Ele pediu a bênção. Ela fixou os olhos nele e disse: você está tão bonito! Agradeceu de bom grado e foram para a sacada. Lá, naquele vaidoso mirante é que se deu o lapso. Ela não reconheceu nele a pessoa que ele dizia ser. Confundiu os netos. Sim, eles eram parecidos, mas não tão iguais a ponto dos olhos de uma avó não os distinguir.

Foi triste.

O tempo é implacável e como dizia Gregório de Matos: "...trota a toda lijeiresa e imprime a todos sua pisada..."

Todos nós sofreremos desse tormento. O tempo é o maior paradoxo tangível. Com o mesmo fervor que ele cura a dor incurável ele implaca a dor que não passa. É relativo, fugidio, vago, imenso, pequeno, vil, doce ...

Não fora a primeira das confusões. A lucidez já não é a mesma e se apresenta como um retrato deturpado das vicissitudes cotidianas. Porém, caro leitor, se você, agora, lembrar-se de alguém em situação parecida, se se identificou com tal relato, não sinta pena.
Da mesma maneira que o neto soube interpretar o equívoco naquele olhar denso, ele soube identificar um amor que palpitava pelos olhos de sua avó, piscinas que saltavam à face dela. Este, o amor, sempre será o mesmo; inesquecível, intransferível e que ficará guardado no maior encanto de quem conhece a bela jornada já traçada e que reconhece naquele ser humano "estranho" toda a sua beleza.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Xeque-mate

O que leva uma pessoa a mentir?

Não consigo raciocinar encima deste disparate. É incrível descobrir que você é um assíduo frequentador do telefone aviltante sendo que sequer o número você se lembra. É incrível saber que você é apaixonado por uma pessoa sendo que, no mínimo, a indiferença é a que impera. É incrível saber que foi você quem estragou tudo aquela vez, com aquele "outro", você espalhou o secreto, semeou o indizível, mas nunca, meu caro leitor, você saberá o que terá dito, ou melhor, o que certamente nunca disse.

O ato de mentir se esgota nele mesmo. Ele denota uma imaginação altamente fecunda, mas veementemente tacanha, rasa. Tais mazelas verborrágicas deterioram a vida alheia e produzem situações que certamente poderiam ser evitadas.

Tão feio quanto mentir é ser complacente com ela. Execre os mentirosos e o seu conluio.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Rabiscos

Grande noite. Muito vinho, pessoas desconhecidas inseridas num mundo que acaba de se tornar mais conhecido para nós. Muitos assuntos interessantes, muitas palavras jogadas ao relento.

Risadas.

O reencontro dos que passaram algum tempo afastados. Quem os via achava que o longo período era o de no máximo 48 horas.

Proximidade.
Epifanias.
Chão.
Enfim, retornavam.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Fragilidade

No dia 2 de Fevereiro de 2009 o Brasil assistiu a mais uma derrota em seu sistema partidário. O PMDB com a dobradinha Sarney-Temer elegeu o presidente do Senado e da Câmara, respectivamente. Resumindo: os "coronéis" dominaram o poder Legislativo de forma clara e contundente. Pior: o PT e o PSDB, situação e oposição, nada conseguiram fazer para que o levante peemedebista se consumasse.

Olhando esse painel que se instaurou e refletindo sobre as eleições de 2010 chegamos a uma questão inexplicável. O PMDB, maior partido da nação, absoluto no Congresso, nos Estados, nos municípios não possui nenhum nome para concorrer à Alvorada. Com a magnitude que tem, a congregação não consegue renovar seus quadros, ampliar o horizonte com novos nomes na política, novos políticos, nada! Existe aqui uma crise partidária absurda e que é administrada presidente após presidente.

Para o pleito de 2010 temos os nomes de José Serra, Aécio Neves e Dilma Rouseff. Alguém poderia lembrar de algum militante peemedebista ?
O leitor mais afoito dirá: "Mas há a possibilidade de Aécio mudar de partido!". Ledo engano. Não mudará. O que teremos é uma convenção interna no PSDB definindo, obviamente o nome de José Serra. O governador mineiro, para não cair no ostracismo, sairá candidato a uma vaga no Senado. Isso é quase uma verdade absoluta.

É frustrante. Não se vê um rosto novo na cena política. Nenhum. Nos EUA o fenômeno Obama, mesmo que se mostre uma farsa, reavivou a esperança em solo norte-americano, americano e porque não dizer global. Por aqui, nos animamos com Sarney, que completará 54 de vida política, magnifico !

A reforma política é importante, imprescindível para que a nação tome rumos diferentes, novos. Enquanto múmias ambulantes tomarem conta de Brasília, que nem completou 50 anos, o nosso país tupiniquim viverá a diacronia da modernidade que o mundo exige com o conservadorismo avassalador que esses "enfaixados" representam.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Angústia e Pânico

Será um post egoísta. Falarei de mim.

É tão engraçado como o nosso corpo, a nossa cabeça responde de diferentes maneiras aos estímulos que recebemos dioturnamente. Minha cabeça, meu corpo, não é de hoje, não se encontra em plenitude de energia. Deficitário. Penoso. Árduo. Vaga sem estima.

A alguns meses essa penúria me acompanha, e de um mês pra cá ela se intensificou de maneira capital. Torço para que os dias corram, para que eu deite a cabeça no travesseiro e me perca em sonhos psicodélicos. O dia se tornou sinônimo de dor. Limiar tênue da vida digna.

Aguentei até ontem. Resisti. Perdi para mim.

Diagnóstico: você está sofrendo de angústia, uma pré-depressão.

Meu Deus, das últimas coisas que eu poderia imaginar. A última. Não que eu me achasse uma fortaleza, uma barreira que não sofre quedas. Mas sempre fui tão otimista, perseverante. Depressão ?

As coisas se encaixam. O "(S)sorriso" não é mais o mesmo. Forçado. Sem expressividade, sem verdade ... isso, sem verdade !!!

Assitiamos ao documentário sobre Vinícius de Moraes quando o diagnóstico foi dado. O estranhamento foi natural, mas depois as coisas se acomodaram. Tudo se explica.

Felicidade demais é desespero, fato. Sofro do amor total, pleno. Tão bonita imagem, o amor produzindo angústia. É o que se paga pela entrega sem limites que se faz. É uma escolha. É uma forma de viver, que é intensa, mas que será cobrada se não for tratada de maneira recíproca.

Bobagem esmiuçar meus sintomas, minhas fobias, minhas dores. Só eu sei o que realmente se passa. Só gostaria de alerta-los, meus amigos, queridos leitores, que vou sair dessa.
Acredito na minha força interior, dilacerando a carne já cansada e dando lugar à nova. Vocês tem papel imprescindível nessa batalha. Cada um a sua maneira saberá como agir.

Nada será como antes: amanhã !!! Já diziam Milton Nascimento e Borges, queridos conterrâneos. Agora é olhar pra frente, resistir.

Soneto
Vinicius de Moraes

Meus caros, volta-se porque se tem saudade
Porque se foi feliz intimamente
Volta-se porque se tocou num inocente
E porque se encontrou tranquilidade

A despeito da vida que acorrente
Volta-se, volta-se para a sinceridade
Volta-se sempre, tarde ou de repente
Na alegria ou na infelicidade.

E nada como esse apelo da lembrança
Para se transfigurar numa esperança
Essa desolação que uma alma leve

Assim é que, partindo, eu vou levando
Toda a desolação de um até-quando
Num ardente desejo de até-breve.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Sobre nada e qualquer coisa ...

Vontade fulminante de escrever, externizar toda a lamuria esquizofrênica. Vontade de me rasgar, mostrar aos que me acompanham na longa jornada o que de fato sinto.

Quantas vezes todos nós sentimos esse desespero que parece ser maior que nós? Maior do que nossas próprias forças. Toda essa intensidade desmedida é canalizada, transforma-se em lágrimas serenas que por vezes mal chegam a rolar, ficam entaladas num coração relutante e masoquista.

A vida é cheia dessas dicotomias: um poço de reminiscências e divagações ( violento ) é talhado e se transforma em lágrimas, num desabafo calado ( sereno ).

Das dicotomias: praia e montanha. "Como é bom ir para o mar !", diz sempre um bom mineiro. Descer o Mantiqueira e chegar ao zero. Sem altitude. Sem expectativas. Vamos começar do zero. Ah, como seria bom ir para o mar, no zero, e zerar nossos imbróglios.

Não importa se é ilusão. A verdade se perfaz na mente e creio que se possa olhar mais para o parabrisa do que para o retrovisor, neste ano que mal começou e já se mostrou transformador.

Voltar à montanha. À morada. A Serra da Mantiqueira abraçando a pequena cidade. Daqueles abraços grandes e quentes, que acolhem o conterrâneo que viveu, mas não se esqueceu da velha fronteira. Clube da esquina, botecos, conversas em vão ...

Metrópole: São Paulo, aguardo- te como nunca. Ajude-me a ser forte, sendo a carne fraca.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O silêncio de Obama

Israel

Não é do melhor augúrio que o futuro presidente dos Estados Unidosvenha repetindo uma e outra vez, sem lhe tremer a voz, que manterácom Israel a "relação especial" que liga os dois países, emparticular o apoio incondicional que a Casa Branca tem dispensado à política repressiva (repressiva é dizer pouco) com que os governantes(e porque não também os governados?) israelitas não têm feito outra coisa senão martirizar por todos os modos e meios o povo palestino. Se a Barack Obama não lhe repugna tomar o seu chá com verdugos e criminosos de guerra, bom proveito lhe faça, mas não conte com a aprovação da gente honesta. Outros presidentes colegas seus o fizeramantes sem precisarem de outra justificação que a tal "relaçãoespecial" com a qual se deu cobertura a quantas ignomínias foram tramadas pelos dois países contra os direitos nacionais dos palestinos. Ao longo da campanha eleitoral Barack Obama, fosse por vivência pessoal ou por estratégia política, soube dar de si mesmo a imagem de um pai estremoso. Isso me leva a sugerir-lhe que conte esta noite uma história às suas filhas antes de adormecerem, a história de um barco que transportava quatro toneladas de medicamentos para acudir à terrível situação sanitária da população de Gaza e que esse barco, Dignidade era o seu nome, foi destruído por um ataque de forças navais israelitas sob o pretexto de que não tinha autorização para atracar nas suas costas (julgava eu, afinal ignorante, que as costasde Gaza eram palestinas ) E não se surpreenda se uma das suas filhas, ou as duas em coro, lhe disserem: "Não te canses, papá, já sabemos o que é uma relação especial, chama-se cumplicidade no crime".

José Saramago