terça-feira, 31 de março de 2009

Leite Derramado

A nova obra de Chico Buarque, homônima deste post, é lindamente bem concebida. Com sacadas que só um cérebro em plena atividade pode produzir. Mas não, caro leitor, não ousarei discorrer sobre as delongas do livro. Seria muita ousadia, apenas recomendo a leitura.

Talvez o leite derramado seja uma metáfora apropriadíssima para o momento. Imaginemos que são várias as maneiras que o leite pode escorrer de seu recipiente.

1.Pode acontecer da quantidade de líquido ser tamanha que o recipiente não mais o tolerar. Ele vai se enchendo pouco a pouco, aguentando, recrudescendo suas laterais, mas não adianta, vazará.

Passou dos limites que ele suportava.

2.Pode acontecer do recipiente cair. Neste momento não me vem outra imagem senão a de um grande jarro de vidro, desses bem fininhos, se estilhaçando, caquinhos que vão se misturar ao leite que escorre.

Não chegou na possibilidade total, capitulou antes disso.

Mas que banalidade tratar sobre o "leite derramado", dirão. Duvide das soluções simples, nada é simples quando se tratam de sentimentos, principalmente o mais intenso deles, o irmão do ódio; o amor.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Venezuela donde estás?

A cada programa de tv uma nova surpresa. É assim que tem sido a rotina dos venezuelanos com o malfadado "alô, presidente", o programa semanal exibido aos domingos e que tem como protagonista, claro, o estandarte do "resorgimento" bolivariano, Hugo Chávez.

A última movimentação da câmara oficialista e do executivo, chefiado por ele, foi a intervenção em portos e aeroportos de estados sob gerência da oposição, sim, ela ainda existe. A guinada autocrática que o governo "revolucionário" toma, em nome da equidade social, parece debochar explicitamente da democracia. Mais uma vez, dirá o atento leitor. Reavivamos nossa memória e lembraremos que o referendo sobre a reeleição infindável foi ratificada pela população. O Simón Bolívar do século XXI parece guiar o seu cavalo rumo aos seus amigos de trincheira: Fidel Castro, Evo Morales e Rafael Garcia. Mais do que amigos; verteram e bebem do mesmo fanatismo egocêntrico, que, cá entre nós, cheira mal.

A campanha publicitária de Chávez é magnífica. Ele realmente conseguiu angariar a confiança de uma grande parcela da população com o seu discurso assistencialista e patriótico. Foi laboriosíssmo, mas não esqueçamos que existe os que não concordam com o regime instaurado. Eles fazem massa não-ouvinte no legislativo, mas nas ruas de Caracas, como pode ser notado, se fazem serem vistos.

Com a queda do preço do petróleo, a rica Venezuela já sofre com crises de desabastecimento alimentar e já não consegue financiar tantos projetos estatais quanto gostaria. Vejamos até que ponto " el socialismo del siglo XXI" conseguirá absorver os anseios sociais e rir, demasiadamente, da frágil Democracia.

terça-feira, 3 de março de 2009

Os anos se passaram

Fazia algum tempo que ele não a via. Ela, porém, encontrava-se no mesmo lugar de sempre: apartamento 61 do edifício Bela Vista. Aliás, ele não tinha esse nome por um acaso, a paisagem que se esmerava daquela sacada era magnífica; montanhas, pôr do sol e muitas casinhas modestas. Entrou sorrateiro, como sempre fez. Ela resava, para variar. Sussurrava algumas palavras que por hora se perderam com aquele reencontro. Ele pediu a bênção. Ela fixou os olhos nele e disse: você está tão bonito! Agradeceu de bom grado e foram para a sacada. Lá, naquele vaidoso mirante é que se deu o lapso. Ela não reconheceu nele a pessoa que ele dizia ser. Confundiu os netos. Sim, eles eram parecidos, mas não tão iguais a ponto dos olhos de uma avó não os distinguir.

Foi triste.

O tempo é implacável e como dizia Gregório de Matos: "...trota a toda lijeiresa e imprime a todos sua pisada..."

Todos nós sofreremos desse tormento. O tempo é o maior paradoxo tangível. Com o mesmo fervor que ele cura a dor incurável ele implaca a dor que não passa. É relativo, fugidio, vago, imenso, pequeno, vil, doce ...

Não fora a primeira das confusões. A lucidez já não é a mesma e se apresenta como um retrato deturpado das vicissitudes cotidianas. Porém, caro leitor, se você, agora, lembrar-se de alguém em situação parecida, se se identificou com tal relato, não sinta pena.
Da mesma maneira que o neto soube interpretar o equívoco naquele olhar denso, ele soube identificar um amor que palpitava pelos olhos de sua avó, piscinas que saltavam à face dela. Este, o amor, sempre será o mesmo; inesquecível, intransferível e que ficará guardado no maior encanto de quem conhece a bela jornada já traçada e que reconhece naquele ser humano "estranho" toda a sua beleza.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Xeque-mate

O que leva uma pessoa a mentir?

Não consigo raciocinar encima deste disparate. É incrível descobrir que você é um assíduo frequentador do telefone aviltante sendo que sequer o número você se lembra. É incrível saber que você é apaixonado por uma pessoa sendo que, no mínimo, a indiferença é a que impera. É incrível saber que foi você quem estragou tudo aquela vez, com aquele "outro", você espalhou o secreto, semeou o indizível, mas nunca, meu caro leitor, você saberá o que terá dito, ou melhor, o que certamente nunca disse.

O ato de mentir se esgota nele mesmo. Ele denota uma imaginação altamente fecunda, mas veementemente tacanha, rasa. Tais mazelas verborrágicas deterioram a vida alheia e produzem situações que certamente poderiam ser evitadas.

Tão feio quanto mentir é ser complacente com ela. Execre os mentirosos e o seu conluio.