terça-feira, 12 de novembro de 2013

Desculpe-me, meu amigo!


Viver, sem dúvida, é uma maneira de doação ao outro. Não há forma mais pura e verdadeira de nos sentirmos bem quando ajudamos alguém. Quando tomamos uma atitude altruísta, quase sempre, é porque nos colocamos por debaixo daquela pele alheia, daquele ser em desespero e o acodimos da maneira como podemos. Atento leitor, faço essa pequena digressão pois ainda me sinto incomodado. Em um determinado momento do dia eu recebo uma ligação. O meu amigo do outro lado da linha está claramente aflito. Frases curtas; monossilábicas. Quando do encontro percebo toda a angústia que aquele ente carrega consigo. Um amor que não se resolve, um trabalho pouco digno, problemas em casa... todos nós temos obstáculos a superar todos os dias. É a luta diária e ininterrupta pela vitória do que não sabemos, apenas seguimos.

O ponto que quero discutir é a fragilidade que sentimos quando notícias de pessoas próximas a nós surgem. Reflexivo leitor, quando aquele seu amigo de longa jornada lhe diz que aquele outro, o qual você estima profundamente, está passando por momentos difíceis ou aquele sorriso esfuziante se transformou em cápsulas de tarja preta... é hora de repensar. Repensar não quer dizer apenas pensar novamente e sim começar a pensar, do zero mesmo. Nós, e me incluo com muita tristeza nessa conta, estamos sempre com as agendas lotadas, compromissos, focados em alguma coisa que pensamos ser um fim. O que se costuma definir como objetivo. Objetivo?! Será mesmo que tem valido a pena?!

A rotina nos joga em um buraco. É como se tudo fosse menos importante que a bendita (ou maldita) hora de acordar, tomar café, ir para o trabalho, trabalhar duramente, cansar, voltar e recomeçar o ciclo. Esquecemos dos detalhes, das sutilezas, das gentilezas, de prestar a atenção no outro.

As letras não podem voltar o tempo, ajudar naquele momento em que eu poderia e não estava lá. Remorso profundo em não ter estendido a mão quando mais precisaram. Desculpem-me, meus amigos!! O odioso tom egoísta dos dias que passam, cega. Cada vez tenho mais certeza que o caminho a seguir não é esse. Vamos fazer um esforço, e também será meu compromisso, de nos preocupar com os nossos amigos, nossa base! Conquistar um mundo melhor a nossa volta é construir em nós uma serenidade, mesmo que passageira...

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Chame o ladrão!

Não poderia ficar calado após o que aconteceu na última madruga de domingo em Andradas.
Para os que não estavam na cidade e não presenciaram os momentos de horror, conto-lhes o resumo.

Um rapaz brigou dentro do Clube Rio Branco e foi expulso pelos seguranças: medida normal e corriqueira. No entanto, ele ficou irado com essa atitude e começou a atirar pedras, tijolos e outros objetos na fachada do clube, que ficou totalmente destruída. Cerca de 20 pessoas participaram da ação digna de faroeste.

Mas, perplexo leitor, o que mais causou fúria foi o procedimento da Polícia Militar de Minas Gerais. Quando me dei conta da proporção das cenas que estava presenciando, decidi filmar tudo. os PMs demoraram mais de 30 minutos para chegar até à ocorrência, o que caracteriza uma omissão tremenda. Não obstante, um dos homens pediu para que eu saísse do meio da rua. Respondi-lhe de que a rua era um espaço público e que eu desfrutava desse direito. Mesmo assim ele não se convenceu de meu "argumento" e disse que pública era a calçada. Obedeci e fui até a calçada.

Passados alguns minutos houve a tentativa de imobilizar o principal arruaceiro que havia liderado o "ataque" ao clube. Neste momento fui próximo aos policiais para registrar o momento. Como vocês podem atestar no vídeo, os "espectadores" clamam para que a Polícia faça com que eu pare de gravar por estar "atrapalhando". Neste momento um deles vem até mim, empurra-me três vezes com um cacetete e toma o celular de minha mão. Totalmente alterado e despreparado o mesmo policial disse que eu estava "conturbando" a situação e que se eu não me retirasse de imediato seria preso. Queria saber em qual delito do código penal eu me enquadro nesta situação, pasmo leitor?

Vocês podem imaginar o tamanho da minha indignação. Quem é pago para nos proteger e assegurar os direitos básicos, nos priva deles em nome do uso da força do coldre.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

O contador de histórias

Saravá, caro leitor. Há quanto tempo já não sento aqui para trocar algumas impressões e fazer com que pensemos mais sobre um assunto qualquer. Podem dizer que sofro da ingratidão para com meu companheiro de copo. Assumo a dívida e espero me eximir daqui pra frente com boas novas.

Cansado de somente escrever sobre as mazelas da Capital, sobre as desventuras do ser humano, resolvi escapar da rotina.

Vamos ao que interessa.

Não nos soa confortante quando nos vemos retratados na história de outrem? Reflitam comigo: um colega começa a contar sobre a grande viagem que fez à China, daquele destemperança no trânsito, da reunião de família, dos amores. Não só nos traz a noção de que os fatos nunca estão isolados no mundo e mais do que isso, de que todos nós, de alguma maneira, fazemos parte de uma ou outra história.

Um bom contador delas consegue lhe transportar para o relato dele. Introspectivo leitor, já lhe ocorreu de no meio daquela conversa despretenciosa você escutar aquele "estalo" e perceber que aquela história não pertence ao emissor, mas a você mesmo?!

Fiz essa digreção para lhe trazer um problema de ordem técnica, e aqui sua ajuda me será útil.
O bom contador de histórias consegue fazer delas todas um ensejo para organizar ideias. Conforme ele conta, coloca os pingos nos "is" e realoca aquilo que outrora era confuso. No entanto, ele pode o fazer de maneira totalmente equivocada, para não dizer que ele flerta com o irreal. Você, que se via ali, aplacado pela realidade crua do conto já vislumbra um outro ente. Trocando em miúdos: falsearam o mundo real das lembranças. O que fazer? Eu já não sou mais o ente de carne e osso que viveu aquele momento, muito menos o ser que sai pelas palavras daquela boca. O ente de outrora já também não encarna na cabeça do emissor como deveria. Ele é fruto de esquecimentos, algumas pitadas de imaginação e reflexões "a posteriori" que o fazem quase um rascunho perdido.

Vejo-me por muitas vezes assim; um rascunho perdido na cabeça de muitos.
Entro pela porta da frente, como sempre fiz, mostro meu rosto, velho conhecido, peço o mesmo chopp, a mesma porção de bolinho de bacalhau, uso as mesmas calças jeans de anos, aquela camisa preta lisa, a mesma barba por fazer. Por dentro já não mora o rascunho, nem o ente de carne e osso do passado. Como me apresentar? Como fazer para tentar mudar a impressão de sempre?

Se você souber como, me dê a chave desta problemática.
Já não sei se sou um ou outro.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Da luz à escuridão

A lâmpada já fazia barulho há tempos e dava indícios de que iria queimar. Dito e feito. Numa das tantas cheganças pela madrugada, ele foi surpreendido pelo estalo e o apagão que se seguiram.

Não hesitou em transformar a luminária do seu criado em uma fonte de luz provisória. Tratou de mirar o feixe para a parede branca: maior claridade.

Naquele momento foi que se recordou de como havia usado daquele recurso outrora. Numa dada situação totalmente diferente daquela posta. Em uma em que a penumbra é desejada e não um obstáculo.

Quantas reminiscências, meu leitor ...
Provavelmente você já as teve. Começa como uma reação em cadeia, na qual as coisas vão se sucedendo de uma forma alucinada e no mergulho de várias lembranças você é tragado. Por vezes, traído por esses "souvenirs" ou marcado pelos "feed-backs".

Pois bem, foi o caso. Havia muito tempo que ela não me aparecia tão nítida e lasciva. Foi somente fechar os olhos e deixar a escuridão tomar conta do quarto. A porta dos sonhos se abriu e me trouxe você; tão palpável, tão real...
Hesitei em acordar e findar com toda a recordação bem vinda, a vida continua e como um forte raio do sol de verão exige o seguir. Segui ... não menos saudoso de tuas mãos, no entanto, menos obscuro delas.


sexta-feira, 23 de julho de 2010

Nada digno de nossas saudades

Tudo lhe pareceu mais mesquinho do que quando partira (…) não viu nada que lhe parecesse digno de suas saudades. 
( Amor nos tempos do cólera )

Andradas, em época de Festa do Vinho, torna-se uma cidade diferente da habitual. Os seus filhos que estão espalhados por outras terras têm a oportunidade de retornarem e reviverem momentos que aqui viveram. Como um deles, entristeci-me ao constatar que a nossa cidade está tão mal tratada. Não há nenhuma referência de que o evento celebrá os imigrantes italianos que a fundaram. Parece que o mote do vinho é apenas um entre tantos outros para uma festa qualquer. O resgate cultural que víamos há algum tempo foi perdido. Perdeu-se o respeito pela história, pela origem da celebração. A “Terra do Vinho” nunca esteve tão escura, esburacada e suja. O descaso administrativo é gigante e necessita de urgente mobilização da população conscientizada.

O Pico do Gavião, outra de nossas referências, contrariando o jargão agora nos “é de direito, mas não de fato”. A transferência da sede do Clube do Pico do Gavião para Águas da Prata nos tirou culhão turístico. Não obstante, encerrou com um ciclo de cinco anos de aquecimento dos setores hoteleiro e comercial que se beneficiava do dinheiro dos turistas apreciadores do “melhor pico de voo livre do mundo”, segundo especialistas.

Caro leitor, não há como ficar inerte a tantos despropérios. Precisamos instigar, debater, questionar as (não) ações que a atual administração vem tomando.

Citemos alguns exemplos: o tão esperado parque ecológico, que já tinha a sua pedra fundamental desenrolada, foi totalmente negligenciado, abandonado e o dinheiro público já gasto naquela obra foi todo perdido. As obras do materno infantil já estão atrasadas e em fase primitiva. A merenda escolar voltou a ser biscoitos porque, segundo a divisão competente é mais nutritivo que o outrora arroz, feijão, carne e salada servidos. A secretaria de educação se move para negar transporte aos estudantes universitários enquanto o ônibus com a biblioteca móvel “não se move”, estacionado no pátio do almoxarifado. Talvez seja fruto do pouco apreço à leitura das atuais autoridades do município.

Contudo, não se pode negar a evolução em algumas áreas. A implementação das “novas lixeiras” importadas de Portugal em que se joga o lixo de um lado e ele cai do outro,; é um feito administrativo. Neste mesmo ensejo temos novas “aulas” de educação física para alunos da zona rural: “subir em árvore e atravessar rio”, logradas pelo chefe do competente órgão.

O governo que seria popular não parece tão afeito ao nome quando cobra entrada na Festa do Vinho que até 2008 foi de graça.

Como observador, só lamento por tamanha incompetência política que acaba por prejudicar todos os contribuintes andradenses. Você, morador andradense, que faça valer seu voto e exija uma administração que não subestime a sua inteligência e que confunde gerir o espaço público com aparelhá-lo e sucateá-lo.

domingo, 20 de junho de 2010

Por que você me lê?

Após muito tempo longe daqui, resolvi voltar. Revendo anotações no meu caderno, dei-me conta da quantidade de coisas que já acontecerem esse ano. Ele foi comprado exatamente no dia 4 de Janeiro de 2010 e parei para olhá-lo neste sábado de Junho. Nele estão desde exercícios em inglês, passando pelas aulas teóricas da faculdade e chegam em cartas para parentes, pessoas queridas que deixei de alguma forma. Rascunhos para o Sambuteco também estão lá, mas ainda quietos e mudos, esperando a hora de alguém dar-lhes voz.

Recentemente perguntei-me sobre o porquê de possuir um blog. Pensei seriamente em encerrar a conta e fechar essa "mesa de bar" aberta em 2008. Mas, como dessas coisas que não sabemos explicar, recebi uma mensagem de um amigo. Li que ele aguardava com ansiedade uma nova publicação. Inquieto, passei a repensar tal conduta. Na última vez que visitei a terrinha, colocando o papo em dia com os amigos de sempre, um deles me disse que indicara meu blog a um amigo e que esta terceira pessoa conseguia se ver em minhas letras.

Ora, novamente inquiri-me, quantos se dão ao trabalho de "destravar a fechadura"? Se você não vem com a chave para este blog, talvez fique somente no jardim da entrada.
Não importa o número de pessoas que se sentem satisfeitas com minhas delongas, se lhes trago alento, de alguma forma cumpri minha missão. Fidelizar você, simpático leitor, foge de minha alçada, mas se consigo, agradeço-lhe. Talvez seja uma maneira de não nos sentirmos tão sozinhos nesse mundão, que as vezes é tão mundinho.

Mudemos de assunto.

Copa do Mundo. Só tenho uma coisa a dizer: para quem assistiu a de 2006 na pacata Andradas, a de 2010 está sendo uma fúria de emoções. Como é gostoso ver todos naquele sentimento, aquele clima de que tudo vai dar certo no fim. E pode dar, porque não?

Fim de semestre: sensação de dever cumprido: é como tirar alguém do pé de seu ouvido, lembrando-lhe dioturnamente daquele trabalho, daquele texto, daquela prova ... Regozijo por ter conseguido superar.

Férias: realocar ideias, fazer planos, repensar para começar um segundo semestre. Sempre será assim, toda a jornada, temos que nos acostumar.

Férias 2: não sei se a terei de fato, tomara que não, tenho melhores planos para o ócio produtivo de Julho.

Férias 3: foram exatamente três férias de expectativa. Agora, ao que parece, serão tranquilas. Mas, não pense que o silêncio conforta. As vezes esconde, ou é apenas por não ter o que dizer.

Chega.

Já é tarde. Outro sábado que passo por aqui. Este, em especial, com a perda de Saramago e ao som de Radiohead é um pouco triste, longe do habitual. Amanhã, como o próprio mestre já escrevera "será mais um dia para alguns", para mim também, e que seja de alegria e vitória.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Nonsense

Desenvolvi uma certa repulsa a lugares fechados, quentes e cheios de pessoas se expremendo. Tal resolução que me foi imposta pelo cérebro, e que digo a você, claustrofóbico leitor, é a pior das imposições, aflora como uma onda negativa que percorre o corpo e paraliza. Por esses dias, retornando à vida paulistana, após certo tempo em terras mais frias, fui a uma casa na famosa rua Augusta. Na companhia de meus amigos e de uma multidão tresloucada, a primeira respirada dentro do recinto me foi como um basta. Qualquer ser humano racional daria meia volta e hesitaria em retornar. Eu sempre decido lutar contra mim mesmo. Outra resolução, esta mais consciente.

O tempo foi passando e as más pulsações foram se esvaindo, até sumirem. Não sei que tipo de mecanismo me faz tão refém de minhas próprias emoções. Mais do que isso: eu sou o refém e ao mesmo tempo consigo ser a persona que inviabiliza o sucesso desse "rapto".

Não queria escrever linhas tão medíocres como essas, mas como sempre, falta inspiração (mentira, só tenho medo de começar a externá-la de fato ).

Vou lembrar três coisas que me tem acompanhado dioturnamente.
Desculpe o desvario que se seguirá.

Vocês três fazem uma triangulação intermunicipal, interestadual e internacional. Não sei em que pé da vida as conheci. Talvez no melhor para quem está fora, num não tão bom para quem já não está tão perto e um tempo como todos os outros para você que está perto. Conheci a de lá, profundamente. A de lá longe, desconheci. A de cá é uma incógnita. Cada qual me cativou, seja pela beleza, seja pela inteligência ou seja pelos dois em você.

Penso pouco no perto.
Muito no longe.
A média das duas é a outra.

Queria poder ter um satélite para acompanhar passos, viagens, destinos, idas e vindas que se seguissem. Pra que, dirá você? Também não sei. Hoje há um certo prazer mórbido em seguir a vida dos outros minuto a minuto se possível. Talvez tenha entrado nessa onda de maneira mais incisiva. Ou então seja um resquício ...

A de lá longe não volta.
A de lá também não.
A de cá estará sempre por perto.

Quais serão seus nomes? Saudade? Amor? Tristeza? Solidão?
Ou terão minhas delongas nomes próprios? Propriedade física e existência material?

Faça o exercício no silêncio íntimo e plástico de alguma noite. Distancie e aproxime ao seu bel prazer, como numa maré. A primeira onda que te arrebatar, é dela que você deve tomar cuidado, as outras se formam no fundo do olhar, mostram-se perigosas, mas não chegam na linha de arrebentação, são inofensivas, ou efêmeras.

Permita-se fazer esse mergulho pessoal, mas cuidado para não voltar sem fôlego.