terça-feira, 3 de novembro de 2009

Apostasia de mim

Este ser imperfeito que vos escreve, soberbo leitor, acaba de se tornar um herege. Sim, violei o mais sagrado dos dogmas, agora sou um excomungado, um execrado, um pária. Qual será o destino dos que traem a si próprios? Em qual andar do inferno de Dante eu descerei?

As coisas ficaram complexas a partir do momento que não consegui cumprir aquilo que prometi para mim mesmo. Parece um transtorno no cérebro, conflito doloroso entre os hemisférios, em que o portador é fadado à derrota. Pior do que ela; a descrença.

Constatar que se chegou a tal fim pode ser um ensejo para uma retomada: alento.
Também pode ser a passividade e total abnegação do ente: desalento.

A força, que nos compete para superar, onde está?
Que sentimento fecundo corre em minhas entranhas que não permite sossegar a carne?

Quantas perguntas, enigmático leitor! As interrogações têm substituído os pontos finais; estes viraram reticências.

Reticência burra, mesquinha, impregnada de um poder que não detenho, carregada de um afeto que transborda. A dicotomia, clara dúvida de quem vive, é determinante, indefectível: certa. Não hesita.

Desacreditei-me. Preciso de um tempo reflexivo. Mensurar os meus valores, repensar condutas. Quem sabe eu volte a ser crível. Hoje sou apenas um ser sofrível, nas duas acepções da etimologia, ou seja, de sofredor e na sua vertente de insuficiência. Chega a dar pena, a penúria dos nervos, sua rigidez. Vorazes, querem saltar à pele. Tolo do que tenta resistir.

Facam seus votos! Eu não sou investimento seguro, sou flutuante, ativo de risco, 100% de risco. Vou vagar por outras bandas, mais frias, quiçá elas esmoreçam minhas investidas, meus amores.