segunda-feira, 16 de março de 2009

Venezuela donde estás?

A cada programa de tv uma nova surpresa. É assim que tem sido a rotina dos venezuelanos com o malfadado "alô, presidente", o programa semanal exibido aos domingos e que tem como protagonista, claro, o estandarte do "resorgimento" bolivariano, Hugo Chávez.

A última movimentação da câmara oficialista e do executivo, chefiado por ele, foi a intervenção em portos e aeroportos de estados sob gerência da oposição, sim, ela ainda existe. A guinada autocrática que o governo "revolucionário" toma, em nome da equidade social, parece debochar explicitamente da democracia. Mais uma vez, dirá o atento leitor. Reavivamos nossa memória e lembraremos que o referendo sobre a reeleição infindável foi ratificada pela população. O Simón Bolívar do século XXI parece guiar o seu cavalo rumo aos seus amigos de trincheira: Fidel Castro, Evo Morales e Rafael Garcia. Mais do que amigos; verteram e bebem do mesmo fanatismo egocêntrico, que, cá entre nós, cheira mal.

A campanha publicitária de Chávez é magnífica. Ele realmente conseguiu angariar a confiança de uma grande parcela da população com o seu discurso assistencialista e patriótico. Foi laboriosíssmo, mas não esqueçamos que existe os que não concordam com o regime instaurado. Eles fazem massa não-ouvinte no legislativo, mas nas ruas de Caracas, como pode ser notado, se fazem serem vistos.

Com a queda do preço do petróleo, a rica Venezuela já sofre com crises de desabastecimento alimentar e já não consegue financiar tantos projetos estatais quanto gostaria. Vejamos até que ponto " el socialismo del siglo XXI" conseguirá absorver os anseios sociais e rir, demasiadamente, da frágil Democracia.

3 comentários:

Felipe M. Ferreira disse...

Acredito que:
1) Embora a Venezuela tenha sido atingida com a queda do preço do petróleo, a crise ainda não chegou por lá — mas isso a imprensa brasileira não noticia.

2) Se entendemos por democracia o voto, então sim, Hugo Chávez foi democrático todas as vezes que convocou referendos — e essa é a democracia que temos aqui no Brasil ou lá nos EUA.

3) Seria de muita valia ter um programa como o "alô, presidente" ou um maior contato, como o que promete Obama, aqui no Brasil, onde nem o presidente nem a imprensa falam para o povo, e sim a uma 'inteligentsia' que se contradiz sempre que o nó da forca aperta.

Fontes disse...

Concordo com os dois.

Unknown disse...

Caro, há sempre duas dimensões na sua linha de análise de conjuntura política (será que haverá um dia em que eu não verei alguma forma de dualidade no material intelectual que você produz?). Na dimensão da forma, você optou pela figura retórica da ironia, o que nos traz um sorriso (faz sentido!) mesmo quando lemos coisas de que ideologicamente discordamos. Já na dimensão do conteúdo, sua interpretação é extremamente crítica quanto à nova onda de “neopopulismo” que, concordo com você, começa a adquirir uma dimensão quase religiosa na massa de desprivilegiadas dos países em desenvolvimento da América do Sul. Sua reflexão é feroz e você não economiza verbos para refutar a manipulação ideológica. Du, um comentarista político jamais tem medo da polêmica porque ele lastreia sua argumentação na base de sólidos dados factuais, o que torna mais difícil qualquer linha de refutação. Você sabe, meu modo de conceber a política está infinitamente mais à esquerda que a sua linha geral de interpretação. Por isso gosto tanto dos seus textos. Você torna muito mais difícil para mim manter-me confortavelmente à esquerda. Tirar o leitor de sua zona de conforto é a obrigação fundamental do comentarista político e, nesse sentido, você está de parabéns: não poderia estar me sentido mais desconfortável do que depois de ler seu ensaio!