quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Banalização da realidade

O fim da exigência do diplomata de jornalismo para exercer a profissão suscitou uma discussão lastreada no direito à informação e liberdade de expressão. O argumento usado no STF, tendo em Gilmar Mendes o seu ministro relator é de que o diploma cerceava o direito do cidadão comum a se manifestar, criando uma reserva de mercado. Outro argumento muito difundido foi o de que o “agir ético”, que é uma das pilastras do bom jornalismo, não é ensinado em qualquer faculdade, ele é um sinal de caráter, é pessoal. Para arrematar, falou-se muito da origem do diploma, nos idos na ditadura, e que nos EUA tal requisito nunca foi necessário.

Ora, comparar a realidade brasileira com a norte-americana é, no mínimo, reducionista. Nossa imprensa nasceu de uma maneira diferente, nossa sociedade é diferente, temos valores e preceitos distintos, enfim, devemos entender e não comparar. Quando Gilmar Mendes traça um paralelo entre o jornalismo e profissões como culinária, moda e costura, que elas me perdoem, ele menospreza todo o arcabouço social que a imprensa veicula. No Brasil, em que as instituições são débeis e viciadas, o papel do jornalismo é dar um alento à população, escancarar todos esses imbróglios e, portanto, mobilizar a população por melhorias.

Nos grandes conglomerados comunicacionais como a Folha e o Estadão os critérios de seleção sofrerão poucas mudanças, quiçá nenhuma. Sempre se procurou os melhores profissionais nas melhores instituições, tem sido assim desde que o jornalismo se profissionalizou pelas terras tupiniquins. Entretanto, em cidades do interior em que os jornais são bancados pela prefeitura local, por uma ou outra empresa, o vínculo ético de um jornalista “imparcial” e a notícia fica totalmente desestruturado. Você dá voz a alguém sem compromisso nenhum com a verdade dos fatos, porem a noticia é propalada e por vezes assumida como factual. Onde fica o dever ético de nossa profissão?

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