terça-feira, 28 de abril de 2009

Cartas

A era digital veio para agilizar o nosso dia a dia. Tudo é feito online: transações, pagamentos, compras. Mais: mensagens pelo celular despencam aos montes, e-mails abarrotam nossas caixas de entrada. Tudo numa frieza mórbida, uma sequidão de expressões, uma nulidade de sentimentos e propósito.

O ato de escrever uma carta foi esquecido e hoje se reserva aos dito antiquados. Mas, se você, sensível leitor, já recebeu uma carta sabe a sensação que tentarei descrever. Ela denota um hiato no tempo, uma momento que alguém dedicou somente a você, momentaneamente ele se desdobrou encima de linhas para atingir o seu âmago, para lhe contar um fato, declarar-se, despedir-se, despiu-se. Por algum espaço de tempo a vida se encerrava naquele papel branco, reminiscências, lembranças, lapsos. É um processo, não como o dos e-mails, rápidos e eficientes, a carta não pretende ser rápida nem eficiente. A temporalidade da carta também é diferente. É um dado físico, material, quando necessário você recorre a ela. É uma certeza factual, está lá, escrito a punho, suor e, por que não, lágrimas.

Claramente uma necessidade humana, o reconhecimento que uma carta traz é infindavelmente maior do que qualquer invenção dos nossos tempos. Infelizmente quem tem se lembrado dessas vicissitudes é o banco. Sim, meu maior remetente, todo fim de mês ele está atento a mim.

Não hesite quando puder remeter uma carta. Histórias foram escritas por elas. Não deixe que definhe algo tão sublime. Presenteie com palavras belas, aconselhe, elogie... singelezas do cotidiano fazem toda a diferença.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

O seu tamanho

Relendo textos antigos que eu mesmo produzi e alguns textos recentíssimos produzidos para mim, notei algo sublime. Veja, nostálgico leitor, que algumas das afirmações que fazíamos com ares de certeza se voltaram contra nós mesmos, agora com ares de dúvida, questionando-nos.
Bala que ricocheteia.
O carrinho da montanha russa que chega ao ápice do trilho e volta de ré.
Boa imagem.

Nós somos exímios observadores da realidade alheia. Tecemos teorias, ou usamos das prontas, para indexar um rótulo. Estabelecer um paralelo desejável. Explicar uma situação.

Chegamos ao topo.

Abusamos das palavras, jogamo-las desencadeadamente pela folha. Saem belas frases: hipócritas. Há um quê de hipocrisia em todos nós. Sem exceção.
Pois bem, fica fácil analisar quando se está no alto. Olha-se com total imparcimonia a realidade logo ali abaixo.
Mas o carrinho desce.
O moinho gira, lembraria Cartola.

Reflita as linhas que outrora escreveu e veja quantas dicas foram dadas, quantos conselhos emprestados sendo que você era, ou seria, o protagonista. Note que estava tão mergulhado, inserido no contexto que se permitiu tecer "bulas" que mais vestiam o seu 36 do que aquele 42.

Olhe com carinho seus textos. Eles são mais inteligentes que nós, os seus autores. O que falta é o olhar cirúrgico e equilibrado para identificar as nuances. Elas saltam aos olhos do leitor atento e fogem aos do autor fugaz.