terça-feira, 11 de agosto de 2009

Maré

Vou me permitir contar outra impressão muito rotineira e intrigante no meu cotidiano, sonhador leitor.

Toda vez em que me vejo sem um norte, algum "plano B", eu sonho. É repousar a cabeça sobre o travesseiro e começam as alucinações. Até aí nenhuma novidade. Todos nós fazemos isso em algum grau.
O que me espanta é o conteúdo do sonho. Sempre o mesmo.

Tudo começa numa praia, estou rodeado sobretudo de familiares e amigos. Um dia de sol, normalíssimo. De repente o tempo se fecha. Vejo-me só. O céu escuresce de forma brutal, tons de cinza. Contudo, o que mais impressiona é o mar. Ele cresce a olhos vistos. Fica transtornado, revolto, bravio. E o ser humano que se encontra solitário na praia toma a atitude mais irracional. Vai em direção da arrebentação.

Daí pra frente é sempre conturbado, pra não dizer desesperador.
Até certo ponto eu consigo nadar e me "esquivar" das ondas. No entanto, as ondas só aumentam de tamanho, a maré sobe. Não dou mais conta de nadar, nem de respirar. Afogo.

Acordo.

Sempre com sede.

Tentei tirar algumas lições desse despropério:

1. Não é seguro nadar em mares que desconhece.
2. Em alguns casos, saber capitular é mais importante do que enfrentar a maré.

E não vou te cansar, náufrago leitor, já basta por aqui.
Uma explicação que eu ainda não alcancei e ainda trabalho nela é perguntar: para onde foram os que outrora me rodeavam?

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Mesa de bar II

Foi você que me escutou.
Foi você que me viu rir desesperadamente.
Hoje, você foi minha amiga...

...mais do que você, só a loira...

Não tenho pudores com você, usei-a mesmo. Mas mesmo assim, serviu-me de recanto.

Obrigado.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Tormento II

Mas você é danada mesmo !!! Achei que tinha me livrado de vez desta tua presença desagradabilíssima. Nem pede licença, senta-se neste meu sofá branco e o torna meio acinzentado. Você o suja com algum desalento que não há limpeza que tire.

Eu lhe peço, saia da minha casa. Volte pra onde nunca deveria ter saído. Eu reconheço que por hora você está menos agressiva, menos feroz, menos ferrenha com tudo que lhe oferto. Contudo prefiro você longe. É tão cômico, porque apareces nestes momentos inoportunos? Alguém te forneces todas as minhas angústias, ou elas são tão latentes em meus olhos?

Também não quero que se explique. Somente sua presença já causa um desconforto no âmago, quando ousas pronunciar algo, mesmo que balbuciando, as palavras entram e parecem estar num looping sem fim.

Quando eu for dormir, espero que tenha respeito e fique na sala. No meu quarto você não é bem-vinda. Vá durmir com seus companheiros fúteis.

Quando eu acordar, espero que tenha ido embora. E não perca tempo escrevendo bilhetes, somente vá com todo o seu conluio. Esqueça-me, como tão magistralmente vinha fazendo, e se um dia supuser voltar para me fazer uma visita; não perca seu tempo.

Saberei trancar a porta.