segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O silêncio de Obama

Israel

Não é do melhor augúrio que o futuro presidente dos Estados Unidosvenha repetindo uma e outra vez, sem lhe tremer a voz, que manterácom Israel a "relação especial" que liga os dois países, emparticular o apoio incondicional que a Casa Branca tem dispensado à política repressiva (repressiva é dizer pouco) com que os governantes(e porque não também os governados?) israelitas não têm feito outra coisa senão martirizar por todos os modos e meios o povo palestino. Se a Barack Obama não lhe repugna tomar o seu chá com verdugos e criminosos de guerra, bom proveito lhe faça, mas não conte com a aprovação da gente honesta. Outros presidentes colegas seus o fizeramantes sem precisarem de outra justificação que a tal "relaçãoespecial" com a qual se deu cobertura a quantas ignomínias foram tramadas pelos dois países contra os direitos nacionais dos palestinos. Ao longo da campanha eleitoral Barack Obama, fosse por vivência pessoal ou por estratégia política, soube dar de si mesmo a imagem de um pai estremoso. Isso me leva a sugerir-lhe que conte esta noite uma história às suas filhas antes de adormecerem, a história de um barco que transportava quatro toneladas de medicamentos para acudir à terrível situação sanitária da população de Gaza e que esse barco, Dignidade era o seu nome, foi destruído por um ataque de forças navais israelitas sob o pretexto de que não tinha autorização para atracar nas suas costas (julgava eu, afinal ignorante, que as costasde Gaza eram palestinas ) E não se surpreenda se uma das suas filhas, ou as duas em coro, lhe disserem: "Não te canses, papá, já sabemos o que é uma relação especial, chama-se cumplicidade no crime".

José Saramago

5 comentários:

Victor disse...

Ah, eu tinha lido isso aí no blog dele... bem legal.

Unknown disse...

"Change".
"Yes, we can".

Bom, talvez o mundo todo esteja depositando muitas esperanças de mudança em um presidente americano. Afinal, ele é, em primeiro lugar, um presidente "americano".

Mas seria legal se isso de "change" fosse de verdade. E que os Estados Unidos mudassem a forma de como se relacionam com o resto do mundo -a mesma forma que vigorou nos últimos séculos, inclusive na América Latina, como estudamos no semestre passado :). Mas acho extremamente difícil que isso aconteça =/

Só espero que Obama não siga os erros do seu antecessor e parta para uma outra guerra perdida -dessa vez, no Irã.

beijos, Sorriso!
obs:e ahh, gostei pelo lembrete no seu post anterior! é bom ser lembrada por coisas assim, obrigada ;)

Unknown disse...

ahhh, e é a Clara, a propósito... hahahahaha, desculpa!!!!

é que minha irmã deixou logado aqui no nome dela, hehe


sorry!

Tulio Bucchioni disse...

É. Parece que mesmo que não queiramos o ceticismo com os EUA ainda vai durar um bom tempo.

Unknown disse...

Du, caro,
Muito bem articulada sua linha de argumentação, caro jornalista. Doses bem equilibradas de análise política e de ponderação ética na avaliação de um dos temas mais complexos e explosivos das Relações Internacionais na contemporaneidade. Sua vocação para dissecar a atividade política aqui e em outro post que já comentei é inequívoca e sólida. Enfim, um texto, senão plenamente maduro (por que haveríamos de ser plenamente maduros, afinal?), certamente maturado por uma sóbria (repito, “sóbria”) reflexão sobre a ética e os valores da ação política (Du, caro jornalista, não me cansarei de dizer que prefiro tua sobriedade a qualquer embriaguez: mas, enfim, gosto não se discute)