sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Olhos que procuram olhos

Mesmo sem desejar, mesmo desviando a face, eles são implacáveis. Não existe sentimento tão enigmático quanto esse. O momento que se dirige o olhar, alguém o dirige contra o seu.

Por vezes ele é implacável;

encontra um choque dolorido, um choque frontal, um choque fatal. Ele crava um momento indelével e que nenhuma palavra seria capaz de definir ou conceituar tal realidade.

Por vezes ele é terno;

afetuoso, abraça o emissor bem como o receptor, é um sentir-se acariciado sem existir um tato.

Mas, caro leitor, existe outra modalidade de olhar. O olhar sem visão, o sem horizonte, o sem sentido. Não se consegue discernir se aquilo é bom ou ruim, se aquilo lhe transmite algo ou não. É uma vontade de chegar e perguntar: "E ai, meu amigo, me explique seu olhar!"

Qual será a resposta?

Nessa vicissitude momentânea, posso lhe garantir, visionário leitor, o olhar significa o desencontro, a desarmonia, a nítida sensação de que nem as palavras deram conta. O olhar se perdeu!

Procuro um olhar que me faça mergulhar num buraco negro, sem pensar e, talvez, nadar num mar azul, verde ou castanho, mas que seja leve.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Banalização da realidade

O fim da exigência do diplomata de jornalismo para exercer a profissão suscitou uma discussão lastreada no direito à informação e liberdade de expressão. O argumento usado no STF, tendo em Gilmar Mendes o seu ministro relator é de que o diploma cerceava o direito do cidadão comum a se manifestar, criando uma reserva de mercado. Outro argumento muito difundido foi o de que o “agir ético”, que é uma das pilastras do bom jornalismo, não é ensinado em qualquer faculdade, ele é um sinal de caráter, é pessoal. Para arrematar, falou-se muito da origem do diploma, nos idos na ditadura, e que nos EUA tal requisito nunca foi necessário.

Ora, comparar a realidade brasileira com a norte-americana é, no mínimo, reducionista. Nossa imprensa nasceu de uma maneira diferente, nossa sociedade é diferente, temos valores e preceitos distintos, enfim, devemos entender e não comparar. Quando Gilmar Mendes traça um paralelo entre o jornalismo e profissões como culinária, moda e costura, que elas me perdoem, ele menospreza todo o arcabouço social que a imprensa veicula. No Brasil, em que as instituições são débeis e viciadas, o papel do jornalismo é dar um alento à população, escancarar todos esses imbróglios e, portanto, mobilizar a população por melhorias.

Nos grandes conglomerados comunicacionais como a Folha e o Estadão os critérios de seleção sofrerão poucas mudanças, quiçá nenhuma. Sempre se procurou os melhores profissionais nas melhores instituições, tem sido assim desde que o jornalismo se profissionalizou pelas terras tupiniquins. Entretanto, em cidades do interior em que os jornais são bancados pela prefeitura local, por uma ou outra empresa, o vínculo ético de um jornalista “imparcial” e a notícia fica totalmente desestruturado. Você dá voz a alguém sem compromisso nenhum com a verdade dos fatos, porem a noticia é propalada e por vezes assumida como factual. Onde fica o dever ético de nossa profissão?

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Novo horizonte em Pindorama

A escolha do Rio de Janeiro como a sede dos jogos olímpicos vem coroar o momento ímpar que o Brasil passa. Resultado não de um ou dois governos do presidente Lula, mas sim de quase duas décadas de estabilidade econômica, o país passa a ter peso indefectível no cenário externo. Os críticos e pessimistas já estão alvoroçados, defenestrando a escolha do Rio como ilógica e desmedida. O argumento deles baseia-se em prioridades, ou seja, a capital fluminense, o país como um todo, necessita de melhorias em áreas como a saúde e a educação a revelia de obras para a Olimpíada. Não obstante, citam o descalabro nos gastos com o Pan e seu legado para a cidade.

Ora, não se deve confundir as coisas. Obviamente o país possui muitas mazelas de ordem social. Ainda há analfabetismo, ainda há submoradia. Contudo, na história recente do mundo, não há caso parecido com o do Brasil. Em pouco mais de 40 anos nossa população aumentou em 100 milhões. Isso reflete e muito em hábitos, valores, costumes. Na sociologia costuma-se falar nas “dores do crescimento”. O Brasil ainda passa por elas. O Rio de Janeiro não é diferente. Os morros são reflexo dessa verdade.

A Olimpíada vem selar um novo contrato social entre população e governantes, ou o mais importante, um novo espírito de auto-reconhecimento. Os brasileiros nós sofremos da síndrome da subimportancia, tudo que ocorre em terras tupiniquins é pior do que no exterior. Somos a escumalha mundial. Esse novo pacto pode mostrar um novo país nascendo de estádios e ginásios. Um país que acredita na força do seu povo para crescer, em que os brasileiros se orgulhem de se dizer como tal. Não se trata de um discurso ufanista e sim o surgimento de uma verdadeira nacionalidade, morta pela ditadura.

É tempo de entender que o esporte tem o escopo de trazer o jovem para o exercício da cidadania. Na prática esportiva tem-se a noção de competitividade, respeito ao professor, hierarquia, disciplina, interação social. Ademais, temos os benefícios trazidos para a saúde com a prática esportiva. Em Copenhague, não foi o Rio quem ganhou, foi o Brasil. Em cada canto dessas terras tropicais haverá uma mobilização em torno do esporte. Ganhamos a oportunidade de construir uma geração diferente das que se sucederam até hoje. Formaremos uma nova juventude sedenta por esporte, é a Copa do Mundo em 2014, é a Olimpíada em 2016.

O pessimismo precisa sair do nosso arcabouço histórico. A hora é de apostas, de otimismo. Saber gerir os recursos que virão, saber administrar o volumoso montante de dinheiro público que estará disponível será tarefa árdua. Entretanto não maculemos algo antes que ele comece. A vitória do Rio conclama todo um país, na letra de Chico Buarque, “Estação Derradeira” ele diz: ”Rio de ladeiras, civilização encruzilhada, cada ribanceira é uma nação”. O desafio é dar alento a essas “nações”, fazê-las convergir para este novo contrato. Estamos diante de uma nova decisão para o Brasil.