segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Lara

" Mãe, imagina se o tio Du me levasse na escola de carro?
Eu ia mostrar ele pra todas as minhas amiguinhas, mãe!
Ele ia me balançar no balanço
Me pegar no colo e levar pra salinha"

Nunca fui um entusiasta das crianças, aliás sempre fui avesso a elas. Mas essa minha priminha ( que me chama de tio ) tem feito as coisas mudarem. É de uma pureza tão grande, de uma sinceridade, ingenuidade.

Hoje acordei naquela ressaca, mas escutei a voz finíssima que vinha da cozinha. Lembrei-me do compromisso inadiável. Acordei pesado, tomei um banho para estar leve. Fiquei. Saí dos fundos e cheguei até a cozinha onde ela estava. Escondeu-se de mim. Minha vó riu. Minha mãe me desejou bom dia.

Depois de relutantes monólogos inquisidores que fiz a ela, resolveu falar:
- Vai me levar pra escola hoje, dudu ?

Ela não havia esquecido.

Não sei como narrar o momento em que a empurrei no balanço da escola, com todas as amiguinhas delas me olhando. Ela estava muito feliz; realizada de alguma forma.
O que se passa dentro da cabeça dela?

Se todas as pessoas se contentassem com tão pouco, com atos tão ímpares e fáceis... se as coisas fossem menos "complexíveis"...

4 comentários:

Maria Joana disse...

^^
eu também tenho uma menina Lara na minha vida. meio-prima-meio-adotada-meio-abandonada, ela já faz parte da família. Ela ficava num abrigo do juizado de menores, quando tinha uns três anos, e minha tia-segunda-mãe passou a levar ela pra casa nos fins de semana... daí nas férias, feriados, natais... pronto. parte da família. Hoje ela voltou a morar com a mãe, dá tristeza de ver a situação =/ com mais um bando de irmãos eles moram numa garagem.. a mãe toca um bar. butecão sujo.. as crianças têm de usar o próprio banheiro do bar. Coisa triste mesmo.
Mas nossa Lara sempre vem pros fins de semana, feriados, festas de família, natais... nossa pequena ligada no 220. Conversa e abraça todo mundo. A felicidade dela é encontrar alguém que faça estripulia com ela, joque pra cima, de ponta cabeça.. e que não se canse.. porque ela não se cansa nunca!

Alice Agnelli disse...

Essas priminhas...

Sábado vi a minha, que em meio a conversas e abraços me explicou a história da casa nova dela:

"Sabe, lice, eu falei pro papai que eu não queria casa sem quintal, porque aí não ia dar pra plantar nada. Todas as casas que ele via, não tinham plantas, até que chegou nessa e ele disse que ia dar pra pôr árvore que foi o que eu fiz. Tá vendo essa? Eu que plantei. É que eu quero ter uma árvore minha, que cresça comigo"

Quisera eu ter a idéia dela, quando tinha a idade dela.

É, meu, as crianças surpreendem. E se contentam com atos tão ímpares e fáceis...

Tulio Bucchioni disse...

é...talvez devessemos explorar mais isso.

essa criatividade, essa liberdade, esse clima "anti-pressão" das crianças!

porque no fim, de que adianta esquentar com tão pouco?

grande Laura!

Felipe Lobo disse...

Lendo o seu relato, senti uma coisa que as crianças, principalmente, conseguem fazer conosco: nos mostrar o quanto vale fazer a alegria de alguém com as coisas mais simples do mundo.

Depois que crescemos, perdemos parte dessa capacidade de ser feliz com as menores coisas (ou ao menos não sabemos mais enxergá-las). As crianças fazem com que saibamos que fazer a felicidade de alguém custa pouco, muito pouco. Que depende apenas de querer.

É incrível mesmo...